A mão amada

Sentiu pousar delicadamente a mão em seu ombro esquerdo. E amou-a.
Amou-a tão profundamente como o amante ama a amada, diante da morte certa, na guerra sangrenta.
A mão em seu ombro esquerdo, tão leve, tão delicada, tão gentil, fê-lo sentir-se amado também.
E imaginou destinos idílicos, sensações impensadas até então, beijos longos e deliciosos.
Fria, a mão também - de fato - o amou, naquele instante de poucos segundos.
Como pode amor tão forte nascer de toque tão leve?
"Só pode ser amor de verdade", pensou ele, que não amara nenhuma moça do vilarejo distante, nem da cidade de agora.
Um veleiro no Atlântico, vislumbrava o rapaz, seria testemunha única das paixões desses dois querentes. Ele, o veleiro fino e longo, e o céu azul, por testemunhas. Mais ninguém.
Viveriam de quê? Que importava?, pergunta tola, no real fundada.
Aquele instante era o início de tudo, aquele toque sutil, de amada que acorda o amante no leito nupcial.
Então virou-se. E viu.
A mão da Ceifeira, longa, branca e delicada, chamava o rapaz, cedo, para o fim inevitável.

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