Pequeno coração, amor

Mataria Ele. Assim que Ele passasse novamente em sua frente.
Não. Dessa vez ela não O perdoaria. Uma cretinice dessas não se perdoa, nem em mil anos, nem em mil corações rasgados.
Posou delicada a mão sobre a coxa. Entre elas um vestido de chita, baratinho baratinho. Sob o sol outonal.
Pensou em tudo o que já havia lido em sua vida. Escândalos. Como se submetiam a Ele? Por que a poesia e a prosa Lhe rendiam tantos tributos?
Estavam certas as tragédias gregas. Os romancezinhos comerciais de hoje mentiam. Desconheciam a realidade. Literatura covarde.
Ela, tão nova!, já conhecia a verdade. "A verdade, viu?!"
Via claramente as coisas agora. E não entendia como acreditara N'Ele. E mais uma vez. E outra. E tantas outras. Mas agora...
Sentiu-se altiva. Dona de si e corajosa. Sacou do bolsinho mais um doce mantendo a concentração inalterada. Heroína de filme, atira pergunta depois. "Pou!". Morto.
Mas Ritinha viu toda sua certeza se esvair quando a adrenalina correu de novo em suas veias. Mais um Joãozinho passava em sua frente.
Mais um. O amor de novo lhe pregava uma peça.
Desarmada, cedeu.

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